Prezados(as),
Hoje estou aqui para realizar uma breve discussão sobre uma errônea informação que é divulgada/compartilhada sem análise crítica tanto em meios empresariais quanto em meios acadêmicos acerca da conhecida “Pirâmide do Aprendizado”, “Cone de Aprendizagem”, “Pirâmide de William Glasser”, “Cone da Aprendizagem de Dale” entre outros nomes que foram atribuídos, conforme exemplo abaixo:
Essa questão apareceu para mim quando estava realizando uma pesquisa bibliográfica para o meu trabalho de conclusão do curso de Pedagogia intitulado como “A importância do Pedagogo na Educação Corporativa On-line“ e até então já sabia da existência dessa pirâmide e achei que poderia ser utilizada no texto do meu trabalho.
Dessa forma, comecei a pesquisar fontes confiáveis que poderiam embasar o trabalho e pela minha surpresa não encontrei nada de concreto e confiável, apenas alguns posts em blogs sem referência, páginas de empresas de consultoria em “educação” que falavam mas sem fundamento e até alguns artigos acadêmicos sem fundamento também.
Nesse sentido, fiquei curioso e fui buscar textos confiáveis e bem fundamentos que poderiam explicar essa errônea informação tão compartilhada. E pela minha grata surpresa encontrei diversos textos sérios com referência que refutam essa questão tais como,
A primeira concepção (Cone de Aprendizagem) de Dale ocorreu em 1946 e a última em 1969, com atualização dos meios áudio-visuais e o acréscimo de uma classificação de ativo, icônico e simbólico. Note que não há nenhuma afirmação de que existem percentuais de retenção em nenhuma das versões.TITTON, 2020.
As pirâmides e cones de aprendizagem são recursos costumeiramente utilizados no meio escolar para defender que as práticas pedagógicas que favorecem a participação mais ativa dos alunos são as mais eficientes. Na maioria das vezes, essas pirâmides e cones são associadas aos estudos de William Glasser e Edgar Dale. Esses pesquisadores, contudo, não criaram uma hierarquia de estratégias mais eficientes, muito menos associaram tais estratégias a porcentagem de sucesso ou insucesso na aprendizagem. Em algum momento essa associação foi realizada e transformou-se, com o tempo, em argumento de autoridade. SILVA E MUZARDO, 2018.
Além disso, li que a origem dessa distorção foi realizada pelo Instituto Nacional de Laboratórios de Treinamento em Ciências Comportamentais Aplicadas (NTL em inglês) no Maine, Estados Unidos da América na década de 70 por meio de uma pesquisa que foi incluído as porcentagens referente as taxas de retenção. Tanto que há um artigo do Kåre Letrud que publicado em 2012 intitulado como “A rebuttal of NTL Institute’s learning pyramid”, ou em tradução livre como “Uma refutação da pirâmide de aprendizado do NTL Institute” que em seu resumo fala que,
Este artigo discute a pirâmide de aprendizagem propagada pelo National Training Laboratories Institute. Apresenta e complementa a crítica histórica e metodológica contra a pirâmide de aprendizagem e pede que o Instituto NTL retire seu modelo. LETRUD, 2012.
Dessa forma, concluo esse post para nos alertar que não são só notícias gerais que possuem Fake News, até no meio acadêmico há Fake News e devemos sempre questionar teorias, modelos, metodologias e afins que apresentam algo pronto, definitivo e universal sem considerar as especificidades de um contexto ou ambiente em que está inserido.
Referências
LETRUD, Kåre. A rebuttal of NTL Institute’s learning pyramid. Education, Noruega, Vol. 133, p. 117–124. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/285798853_A_rebuttal_of_NTL_Institute%27s_learning_pyramid
SILVA, F. L.; MUZARDO, F. T. Pirâmides e cones de aprendizagem: da abstração à
hierarquização de estratégias de aprendizagem. Dialogia, São Paulo, n. 29, p. 169-179,
mai./ago. 2018. Disponível em: https://doi.org/10.5585/Dialogia.n29.7883.
TITTON, Luiz Antonio. Aprendizagem Ativa e o Mito do Cone de Aprendizagem. 2020. Disponível em: https://www.newis.cool/post/fake-news-na-aprendizagem-ativa.
algo a falar também sobre o arco de Maguerez e espiral do conhecimento?
excelente reflexão.
Olá Flávio, muito obrigado pelo comentário. Acerca da sua dúvida, não conheço sobre o arco de Maguerez, contudo, irei estudar para entender e se for o caso de ser “fake” faço uma atualização neste post. Mas já a espiral do conhecimento é uma variação da Pirâmide/Cone do Aprendizado, ou seja, também não tem total validade cientifica.
Espero ter ajudado de alguma forma.